terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Um conto de fadas avariado

Edward Hopper, Morning Sun, 1952 


Quando foste embora eu não chorei,
não fiquei zangada, não gritei.
Fiquei apenas triste,
profundamente triste, mergulhada
numa emoção que não conhecia nem exteriorizei.

Para lá fiquei. Sentada
a um estado desgraçado, abraçada.
Parada no tempo e esmiuçando
detalhes de lembranças de promessas vãs,
que gravamos a seco no ar da madrugada.

E como tudo me parecia estagnado!
E de certa forma calmo e delicado.
Sem tempo, sem luz, sem som,
sem morte e sem validade
como um conto de fadas avariado.

Assim, se um dia voltares inesperadamente,
não esperes que te ame perdidamente,
porque a luxúria de amar já me passou,
o feitiço acabou,
e eu sou eu inteira, novamente.

Inês Silva


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