O Computador
A menina Leonor
só quer o computador.
O boneco e a boneca
eram uma grande seca!
Deitou fora a bicicleta,
cansa muito ser atleta.
Não sai para qualquer lado,
nem para comprar gelado.
Anda da mesa para a cama,
só se veste de pijama.
Vê-se ao espelho de manhã
a olhar para o ecrã.
Já se esqueceu de falar.
Só sabe comunicar
com os dedos no teclado.
Tem agora um namorado
a menina Leonor
chamado computador.
É fiel, inteligente
não refila, nunca mente.
E quando ela se fartar,
pimba, basta desligar.
Luísa Ducla
Soares (A cavalo no tempo)
A tecnologia veio facilitar
(Muiiiiitto!...) a nossa vida quotidiana. São várias as tecnologias que nos
permitem realizar inúmeras tarefas de forma simples, eficaz e a um custo
aceitável, deixando-nos mais disponíveis para outras atividades lúdicas como a
prática de desporto, o convívio com amigos e familiares, etc.
Mas…
…como tudo na vida, o equilíbrio é um fator
essencial em todas as vertentes da atividade humana.
O poema de Luísa Ducla Soares alerta-nos
para a dependência, a “escravidão” a que se submetem aqueles que, num
determinado momento, por um determinado motivo ou simplesmente por nada, se
tornam-se “reclusos” da tecnologia.
Não é preciso percorrer muitos quilómetros
ou fazer um grande esforço para verificarmos que no nosso país tem aumentado o
número de crianças que perderem o interesse “pela
boneca e pelo boneco”; o número de adolescentes, jovens e adultos que não
experimentam ou “desistiram” do prazer e do bem-estar físico e psicológico que
as atividades físicas, lúdicas e de convivência nos proporcionam.
É pena que, inconscientemente (considero e
acredito plenamente nessa inconsciência), haja quem decrete a sua própria “pena
de prisão”, a sua condição de escravo…
Confesso que estes “novos escravos”
deixam-me atónita e com uma certa melancolia, sobretudo quando penso que
lutámos e continuamos a lutar, diariamente, pela nossa liberdade (uma das
condições essenciais para a plena realização do ser humano).
É
provável que muitos já estejam a pensar que sou uma retrógrada, uma
conservadora …
Nada disso!...
Sou uma grande adepta das novas
tecnologias. Confesso que já sinto alguma (muita) dificuldade em viver sem
elas…
…Mas, acima de tudo, sou adepta da
liberdade, das relações humanizadas, do equilíbrio, do prazer de estar em
contacto com a natureza, de... olhem! De tanta coisa com as quais cresci num
tempo e lugar pouco dominado pela tecnologia e que me ajudaram a formar-me como
ser humano, a conhecer o mundo e os outros e a viver de uma forma saudável e
feliz…
São Sousa