Edward Hopper, Morning Sun, 1952 |
Quando foste embora eu não chorei,
não fiquei zangada, não gritei.
Fiquei apenas triste,
profundamente triste, mergulhada
numa emoção que não conhecia nem exteriorizei.
Para lá fiquei. Sentada
a um estado desgraçado, abraçada.
Parada no tempo e esmiuçando
detalhes de lembranças de promessas vãs,
que gravamos a seco no ar da madrugada.
E como tudo me parecia estagnado!
E de certa forma calmo e delicado.
Sem tempo, sem luz, sem som,
sem morte e sem validade
como um conto de fadas avariado.
Assim, se um dia voltares inesperadamente,
não esperes que te ame perdidamente,
porque a luxúria de amar já me passou,
o feitiço acabou,
e eu sou eu inteira, novamente.
Inês Silva
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