domingo, 21 de outubro de 2012

M de memórias


Manuel António Pina
Lucília Monteiro
19 de outubro…
O outono ainda mal se tinha instalado, mas consigo trazia já a paisagem invadida pelos tons escarlate e castanho, a chuva, o frio e também a tristeza que se apodera de nós sempre que alguém parte…
Neste dia outonal, Manuel António Pina, embalado pelas andorinhas migratórias, cumpriu a sua última viagem.
Homem do jornalismo e das Letras, deixa-nos um legado literário que não pode ser esquecido e que deve ser respeitado por todos nós através do ato simples, mas possante da leitura.
Para aqueles que ainda não conhecem a obra deste grande nome da Literatura Portuguesa… 
 …um dos seus muitos poemas para espicaçar a curiosidade…

 

Narciso

Quando me dizes "Vem", já eu parti
e já estou tão próximo de ti
que sou eu quem me chama e quem te chama
e é o meu amor que em ti me ama.

Se me olhas sou eu que me contemplo
longamente através do teu olhar
e moro em ti e sou eu o lugar
e demoro-me em ti e sou o tempo.

Eu sou talvez aquilo que me falta
(a alma se sou corpo, o corpo se sou alma)
em ti, e afogo-me na tua vida
como na minha imagem desmedida:

Sol, Lua, água, ouro,
horizontalidade, concordância,
indiferente ordem da infância,
união conjugal, morte, repouso.
     


Mais informações sobre este autor e a sua obra:
http:/www.dglb.pt/sites/DGLB/Portugues/autores/Paginas/PesquisaAutores2.aspx?Autorid=9200               



São Sousa

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