Aristides de Sousa Mendes
Onde começa a humanidade de cada um? O que faz com que uns a tenham em maior quantidade do que outros? Será fruto da educação? Da religião? Parece pouco viável. A educação e a religião ensinam-se em conjunto com os valores e preconceitos de quem ensina. Mas, a questão que aqui se levanta é mais específica: de onde vem a humanidade de um homem que se sacrificou para que milhares não fossem sacrificados?
Surge-me, como se fosse simples,
a ideia de que O Cônsul de Bordéus gira,
principalmente, em torno deste conceito: a humanidade. Tudo parece girar ao
redor disso, à volta desta concepção meramente mental que acabou por se
materializar através das acções de um homem.
Assim, o filme de Francisco Manso
e João Correa está bastante bem concebido neste ângulo. Tudo aquilo que é
louvável na personagem de Aristides de Sousa Mendes foi bem conseguido, e quer
a determinação quer a luta interior, que se salientaram, foram muito bem
exteriorizadas pelo actor Vítor Norte. Há que, igualmente, aplaudir a caracterização
dos figurinos e dos cenários. Criados de uma forma muitíssimo realista, agarram
o auditório e prendem-no a uma viagem ao passado em que não foi descurado um
único detalhe.
Porém, como "aplaudidora",
permito-me também apontar como único ponto desfavorecedor o facto de a história
ser narrada como um flashback.
Parece-me pouco valorizador trazer Aristides de Sousa Mendes de volta à memória
recente apenas devido a outro acontecimento – que quando comparado à narrativa
sobre o Cônsul se torna de menor importância.
Contudo, excluindo o resto e
juízos de valor, o que eu quero é que vejam o filme. Pode ser melhor ou pior,
isso depende apenas da opinião de cada um, todavia, há algo que é indiscutível e
que ninguém poderá discordar: o cinema português está cada vez melhor.
Inês Silva
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