terça-feira, 1 de outubro de 2013

Dia Internacional do Idoso

Li ou vi, já não me recordo quando nem onde, um documentário sobre tribos indígenas. Em todas estas tribos as pessoas mais velhas eram consideradas as mais sábias. Elas eram a energia e força inabalável que mantinha aquelas sociedades vivas, vigorosas e unidas. A determinada altura, no seio de uma dessas tribos, todas as pessoas idosas foram extintas, em virtude de circunstâncias das quais já não me recordo. Facto é, que a partir daí, essa tribo conheceu o caminho da (auto)destruição. Sem a orientação e experiência preciosas dos elementos mais velhos, os pilares nos quais essa sociedade assentava, começaram a desmoronar. Sentimentos como o respeito e a tolerância extinguiram-se, dando lugar a conflitos e agressões violentas. Já não havia ninguém que servisse de exemplo, de guia, de mestre e professor. A tribo extinguiu-se. Hoje em dia fala-se imenso da perda de valores. Creio que esta situação poderá estar intimamente ligada à falta de respeito e consideração que nutrimos pelos nossos seniores. Não me parece que tenha sido em vão que a ONU tenha instituído o dia 1 de outubro como Dia Internacional do Idoso. Entristece-me, de certo modo, que tenha de haver um dia que nos lembre que devemos proteger, valorizar e honrar os idosos.

Portugal é um dos países da UE com maior percentagem de idosos. Graças aos atuais cuidados médicos e alimentares, às condições sanitárias e de habitação, a esperança média de vida tem vindo a aumentar. É discutível, contudo, se essas melhorias são, efetivamente, proporcionais a uma superior qualidade de vida, em termos de dignidade, bem-estar, conforto emocional, familiar e social. Tranquiliza-nos saber que há instituições, pessoas, fundos, medicamentos que cuidam daqueles que se tornaram um fardo para nós. Não lhes falta nada, logo estão bem. Não lhes faltará mesmo nada? Serão verdadeiramente felizes? Se é tão aprazível, porque será que a luta contra a velhice parece ter tomado conta de nós. Na verdade, envelhecer tornou-se sinónimo de fealdade, fragilidade, senilidade. É algo que nos incomoda, que não queremos ver nem ser. O mito da eterna juventude assombra e ensombra-nos. As marcas da passagem dos anos não são sinónimo de decadência. Pelo contrário, são um hino à vida! Afinal, acabamos como começamos.

O mundo inteiro é um palco,
E todos os homens e mulheres são meros atores:
Eles têm suas saídas e suas entradas;
E um homem cumpre em seu tempo muitos papéis.
Seus atos se distribuem por sete idades. No início a criança
Choraminga e regurgita nos braços da mãe.
E mais tarde o garoto se queixa com sua mochila,
E seu rosto iluminado pela manhã, arrastando-se como uma lesma
Sem vontade de ir à escola. E então o apaixonado,
Suspirando como um forno, com uma balada aflita,
Feita para os olhos da sua amada. Depois o soldado,
Cheio de juramentos estranhos, com a barba de um leopardo,
Zeloso de sua honra, rápido e súbito na briga,
Buscando a bolha ilusória da reputação
Até mesmo na boca de um canhão. E então vem a justiça,
Com uma grande barriga arredondada pelo consumo de frangos gordos,
Com olhos severos e barba bem cortada,
Cheio de aforismos sábios e argumentos modernos.
E assim ele cumpre seu papel. A sexta idade o introduz
Na pobre situação de velho bobo de chinelos,
Com óculos no nariz e a bolsa do lado,
Suas calças estreitas guardadas, o mundo demasiado largo para elas,
Suas canelas encolhidas, e sua grande voz masculina
Quebrando-se e voltando-se outra vez para os sons agudos,
Os sopros e assobios da infância. A última cena de todas,
Que termina sua estranha e acidentada história,
É a segunda infância e o mero esquecimento,
Sem dentes, sem mais visão, sem gosto, sem coisa alguma.

In As You Like It, Ato II, Cena VII, em “The Complete Works of William Shakespeare”, editado por W. J. Craig, M.A., Magpie Books, Londres, 1992, 1142 pp. 
Tradução de Carlos Cardoso Aveline

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